João (nome fictício)


Admitir que é um problema.

Sou homem, tenho 41 anos e sou casado há 18 anos com uma mulher que tem agora 45 anos.
Nos 3 anos de namoro e primeiro ano de casamento, fazíamos amor e fazíamos sexo, e muito, muito intenso. Numas férias do primeiro ano de casamento, ela engravidou. 2 meses mais tarde perdi o meu emprego, e quase em simultâneo soubemos que havia necessidade de interromper a gravidez.
Daí em diante, ela perdeu qualquer interesse em sexo, afastando qualquer iniciativa. Ao invés, parece que o meu desejo era cada vez maior. Passei por uma fase em que nem valia a pena abordar o tema pois resultava sempre em discussão, e recorri à masturbação e pornografia.
Se já não havia qualquer intimidade, o nosso afastamento piorou muito quando ela descobriu.
Eu consegui, muito devagar, afastar-me da pornografia, mas não nos aproximamos, tenha sido por uma grande aposta profissional dela, pelas ‘n’ depressões, pelos sentimentos de culpa, das perdas familiares, durante 16 anos fizemos amor 1 a 2 vezes por ano. Nunca mais fizemos sexo.
Fizemos varias terapias sexuais e de casal, mas sempre que passamos à fase de intimidade, ela quis desistir. Se já não tinha sexo nem fazíamos amor, piorou quando fui confrontado com um “a masturbação enoja-me”. Nunca consegui saber se ela alguma vez se masturbou, por simplesmente não responde. E se antigamente gostava de dar e receber sexo oral, até gostou de sexo anal, adorava longos preliminares, agora, as poucas vezes, parece querer “despachar”, e quando está quase no orgasmo, foge sob pretexto de uma “incontrolável vontade de urinar”.
Se ter vontade com a minha mulher e ser rejeitado dói, masturbar-me e sentir aquela culpa era pior. Curioso foi que com o passar do tempo deixei de ter ereções matinais, a vontade foi diminuindo, e agora, as fracas ereções que tenho (a muito custo) raramente dão orgasmo (e quando dão, é mínimo).
Já pensei em sair do relacionamento, em ter outra mulher, mas no fim, nunca o fiz, pois é esta que amo, e quando fazemos amor (ok, podia ser melhor), parece que nos conectamos, mas no dia seguinte, estamos na mesma e não vale a pena eu tentar. Por diversas vezes, quebramos o ciclo, e fizemos amor 3x num mês (daí a média de 2x/ano), mas depois ela rendeu-se sempre à rotina.
Eu poderei já não ser tão apetecível (na realidade, estou na mesma que quando casamos, exceto com mais 18 anos e mais cabelo brancos), ou já não saber conquistar uma mulher, ter perdido algo pelo caminho, mas repartimos todas as tarefas e despesas encontrando equilíbrio e consenso. Na realidade, somos grandes amigos, mas por vezes sinto que não mais que isso, um amigo, não o amante. Como nenhum de nós quer que ela se sinta violada ou que faça amor sem lhe apetecer, porque a mim me apetece, eu acabo à mercê da vontade dela. No meio disto, já identificamos os erros: ambos não ter reconhecido o problema mais cedo, eu ter recorrido à pornografia e ter “pressionado”, ela não querer admitir que é um problema, mas antes dizer que há muita gente assim, e que até é normal, e que se sente bem e confortável assim (mesmo sabendo que eu não…).

 

João (nome fictício)