Mariana Afreixo
Lá porque tenho um útero.
O facto de ter um útero não significa que tenha de ter um filho. Também tenho pernas e não corro como a Rosa Mota. Tenho duas mãos e não toco piano como a Maria João Pires. Tenho um cérebro, mas preciso sempre de ajuda para preencher o IRS.
A partir dos 30, as perguntas sobre filhos vão-se multiplicando. Mas eu não quero ter um filho porque o tempo para o ter se está a acabar, ou porque preciso de alguém que tome conta de mim quando for velhinha. Quero ter um filho quando quiser, quando me sentir preparada, quando a minha vida o permitir, quando sentir que há um espaço que deve ser preenchido na família. Se já não for a tempo, também não preciso de usar o meu útero. Não é ele que define se sou mãe ou não.
Se algum dia for mãe de uma mulher, vou ensinar-lhe que o órgão mais importante de todos, o único que deve ser usado na sua plenitude, é o cérebro. E pedir-lhe que me ajude a preencher o IRS.
Mariana Afreixo nasceu no tempo em que se faziam anúncios de ferros de engomar para o Dia da Mãe e trabalha em Publicidade, no tempo em que os utilizadores das redes sociais já enxovalham as marcas por continuarem a fazer coisas do tipo. Escreveu para algumas publicações como a DIF e a VICE Portugal, participou em projetos como “A.Lusitanicus” e “Meia Desfeita”, e gosta de escrever piadas nas redes sociais.