Ludmila Moura

Ludmila Moura


Periodicamente…


A minha avó zangava-se frequentemente com a minha mãe, porque eu tomava banho e ia ao mar quando estava com o período. A minha mãe,  desconfortável com o tema, ignorou a minha avó, mas muitas vezes torceu o nariz quando lhe dizia que ia usar um tampão.

Falava-se pouco ou nada sobre o tema.
E para meu espanto, hoje, continua a falar-se pouco do quotidiano da menstruação.

Há quem tenha menstruações dolorosas. Há quem passe bem. Há quem esteja mais irritável antes da menstruação. Há quem precise de dormir mais. Há quem precise de beber mais água para atenuar as dores de cabeça. Há quem precise de fazer mais exercício para atenuar o desconforto. Há quem não sinta desconforto. Há quem sinta a ovulação. Há quem tenha períodos que são quase pingos de sangue. Há quem encha pensos higiénicos de tamanho XL. Há quem seja regular. Há que não saiba quando vai chegar.

Porque muitas têm dúvidas ao ver a primeira nódoa de sangue na cueca.
Porque muitas hesitam ao comprar pensos higiénicos, mini ou XL, ou tampões, com ou sem aplicador.
Porque muitas se interrogam ao olhar para o calendário: é para quando? Porque muitas mancham cuecas e até calças. Porque muitas se torcem ao tentar enfiar o primeiro tampão.

Na escola explicaram-me como funciona o corpo humano. E foi bom saber como funciona a máquina porque é mais fácil lidar com o que se percebe e com o que se antecipa quando finalmente chega o dia.
E o dia chega para a grande maioria das mulheres quando ainda são miúdas.

A menstruação é um fenómeno fisiológico, cíclico e as mulheres convivem com ele durante décadas. E devem lidar com ele aproveitando os conhecimentos acumulados por todas nós, sem sussurros nem vergonhas.

Ludmila Moura, 44 anos, portuguesa.